Como falar de Pixinguinha sem reservar um bom tempo de prosa sobre essa proeza chamada "Os 8 Batutas"? Chovem teorias sobre o impacto desses jovens senhores sobre a música brasileira e mundial. De qualquer forma, é inegável considerá-lo, enquanto grupo pioneiro, o mais importante marco da história da MPB. Um tipo raro de "coincidência" cósmica em que os caras certos, conseguem fazer a coisa certa, na hora certa e no lugar certo. Tudo vibrou numa única e inevitável harmonia. O resultado, mais que um produto, foi um milagre brasileiro. Mas saiba um pouco dessa história seu pirateriro desinformado. Ela começa em 1919 quando o gerente do Cine Palais, Isaac Frankel, encomenda a Pixinguinha uma atração para a sala de esperas do lugar. Nessa época Pixinguinha já era admirado no meio artístico e reconhecido como um virtuose precoce (aos 12 anos já tocava cavaquinho e aos 13 estreava na revolucionaria era do disco que se iniciava). Isaac o conhecia do Grupo Caxangá aonde o viu tocar com Donga e João Pernambuco, um dos maiores violonistas de todos os tempos. Desse grupo aliás é que formou-se Os 8 Batutas trazendo além de Pixinguinha na flauta e Donga e Raul Palmierino no violão, Nelson Alves no cavaquinho, China no canto, violão e piano, José Alves no bandolim e ganzá e Luis de Oliveira na bandola e reco-reco. O repertório era de choros, maxixes, canções sertanejas, lundus, batuques e cateretê. Com o tempo o grupo já não cabia na pequena sala do Cine Palais. Gente importante como Rui Barbosa e Ernesto Nazareth sabia que aquilo tratava-se de uma revolução. Os arranjos criados por Pixinguinha davam àqueles gêneros na maioria europeus, uma peculiaridade musical nunca ouvida antes. Estava sendo cunhado ali, sem erro, o arranjo musical brasileiro. Arranjos pelos quais Pixinguinha seria considerado para sempre um dos pais da música popular brasileira. Um continuador inspirado da obra de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazaré que elevou o choro a sua forma musical definitiva. Não tardou a começarem os convites para festas e saraus, muitos de milionários como Arnaldo Guinle. Ganhando páginas em jornais e revistas, logo estavam também em cidades de São Paulo, Minas e do Nordeste. Vale lembrar que até então um grupo de negros tocando aquela mistura estranha e despudorada, mas muito contagiante, era algo nunca visto antes e não faltaram protestos contra aquele tipo de espetáculo. Mas a grande guinada do grupo se deu com a mítica viagem de 6 meses que fizeram a Europa em 1922. O convite surgiu após se apresentarem com o casal de dançarinos Duque a Gaby no Cassino Assírio, no subsolo do Teatro Municipal. Foram para a capital parisiense custeados pelo mecenas Arnaldo Guinle. Lá o jazz e toda aquele efervecência artística de vanguarda encontraram em Pixinguinha o alquimista adequado e tecnicamente seguro para temperar o som dos barutas. Pixinguinha já provara ser um artista inquieto e cheio de experimentações. Algumas delas aliás muito criticadas por romperem com "tradicionalismos" da época. Caso notório é o da música do século "Carinhoso" que composta em 1917, só foi desengavateda anos mais tarde por trazer inovações mal vistas pelos "puristas da arte" de seu tempo. Após então muitos shows abarruados e contatos alienígenas, nossos astros voltam para o seu torrão sem perder o pique. Shows sobre shows. Traziam agora o jazz, saxofones, clarinetes e trumpetes. Mas começaram as dissidências e dificuldades financeiras. Passaram por inúmeras formações diferentes, membros saíam e voltavam. A inconstância levou esses grandes cavalheiros a dissolverem definitivamente a banda por volta de 1927 deixando um legado incalculável para música brasileira. Uma contribuição que delineou os caminhos que a música brasileira (principalmente a carioca) seguiria dali em diante. Essas gravações que você já deve estar baixando são as únicas feitas pelo grupo. Só 20 músicas!!! Coisas desse nosso país tão preocupado com sua arte. Foram feitas pela Victor na Argentina logo depois da chegada do grupo de Paris. Nunca gravaram nada no Brasil!!!! Documentos raríssimos e de importância ímpar em nossa história compilados nesse CD memorável do selo Revivendo. Bem, já que você agora sabe um pouquinho da história, resta ouvir essas gravações lendárias.
Achei essa preciosidade no Cápsula da Cultura. Talvez um blog insuperável se a pedida é samba.
baixe e comprove que os 8 batutas não foram só um sonho
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