sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Domá da Conceição - Anjo Alecrim (2001)

Agora abre bem os olhos prá ouvir a toada desse folião de Abadia de Goiás. Cabôco simples e com alma de poeta que no querer de abraçar o mundo nas cordas da viola, largou a família prá cheirar poeira nas estradas. Era o início de seu retorno à raiz plantada por seu pai violeiro nos tempos em que limpavam roça em Trindade. No mundão que conheceu, Domá encostou a viola quando ouviu, Bob Dylan e Jimy Page. Trocou sua terra por uma violão de 12 cordas. Fez bonito o filho de Goiás e ganhou medalha e troféu; beijo de moça e dinheiro que virou mandioca na panela. Mas certo dia, conversando com seus primeiros fios brancos na barba farta, ouviu que os dias de festivais não davam mais. Farewell to Sá y Guarabira e Zé Rodrix. Adeus também a Domá. Nosso rapaz naquela vida amargurada, encheu a cara deprimido, voltou prá roça e lá fez um ranchinho. E foi nesse buraco existencial que aparece-lhe o anjo madalena salvando-lhe uma boiada braba espalhada em sua cabeça. Uma visita redentora: a lendária estudiosa da cultura brasileira Ely Camargo. Veio ela tocar seu berrante e chamar o folião de volta prá casa. A casa que nunca o havia abandonado. O seu lar que fazia tremer o chão da memória a cada passo dado numa estrada empoeirada. Ely começou a trazer nas visitas o entusiamo de tocar o que aprendera com o pai, a mãe e seu povo. A música de seu chão. E foi cavucando nele que Domá encontrou nas memórias dois cabôcos danados que o haviam impressionado: Genésio Tocantis e Juraíldes da Cruz. Aqueles dois moços de roupa simples e cantar carismático que o fizeram se lembrar de Abadia. Lindomar Alves da Conceição então que se pensava acabado, tomou a viola de volta nos braços e tocou. Trouxe de volta sua voz à Folia de Reis de sua gente. Estava a salvo enfim. Convites começaram a surgir. Apresentações e trabalhos em escolas. Atividade que fala com orgulho e aonde deposita muitos sonhos. Tem até filme sobre a sua vida. Filme que passou até na França. Hoje está gravando seu segundo disco. Vive com simplicidade e talvez mal compreenda o valor de seu trabalho. Um trabalho já reconhecido internacionalmente. Mistura das boas de tradição e inovação só visto nas melhores obras de Antônio Nóbrega ou Alceu Valença (declarada por ele como sua maior influência). Então chega de história. Aqui você conhecer a música dum omi acostumado a limpar roça e tratar de porco. Um omi que saiu do mato e ouviu rock, blues e jazz, voltou com tudo isso e reencontrou a música caipira. Um cara que vai te trazer novidades, meu querido, mas que acima de tudo é um bicho da roça por natureza e agora com orgulho de o ser.

Peguei esse cd das próprias mão de Domá que muito simpático não se conteve em trocar umas 2 horas de prosa. Homem bom de conversa. A maioria das músicas são de domínio público, quatro são se sua autoria. A produção ficou nas mãos do violeiro Luiz Chaffin. E como não poderia fazer falta, Ely Camargo canta uma faixa com Domá (Está Dito).

Prá você, amigo Domá:
Olha, cara, fiquei ressabiado de te perguntá se você aceitava por o anjo alecrim (cd) na internet. Prá baixar mesmo. Coloquei. Se aprovas não sei. Mas se não gostas, que perceba o mal feito depois que seu disco já tiver rodado o mundo. Minha intenção é divulgá-lo já que como você mesmo disse, não há mais cópias para serem vendidas nem previsão de uma reedição.


ouve o som do rapaz que toca vestido de seu personagem: o Anjo Alecrim.

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